Integração Curricular das TIC -Módulo I

Do livro - Planificação e Desenvolvimento Curricular na escola
Miguel Zabalza

Há uns dias atrás escutei uma anedota de Chesterton que vem mesmo a propósito. Contava o orador que, numa das suas viagens, Chesterton visitou um lugar em que se estava a iniciar uma construção. Aproximou-se de um dos operários e perguntou-lhe o que estava ele a fazer. O operário respondeu-lhe que estava a picar uma pedra para que a mesma ficasse lisa e quadrada. De seguida aproximou-se de um outro operário e fez-lhe a mesma pergunta, tendo este respondido que estava preparando uns pilares que suportariam uma parede. E, questionando operário após operário, foram-lhe dizendo em que consistia o respectivo trabalho. Quando repetiu a mesma pergunta a um outro operário, este disse-lhe que estava fazendo uma catedral. Não sei qual terá sido a reacção de chesterton, mas sei qual é a ilação que quero tirar desta história. De facto, o último dos operários questionados tinha uma mentalidade “curricular”. Poderíamos dizer, mesmo correndo o risco de simplificar, que os outros operários tinham uma mentalidade “técnica”, muito próxima do sentido rotineiro, pontual e específico.
Se Chesterton tivesse passado por uma escola que teria acontecido? “ Estou a fazer-lhes um ditado”, diria um professor, outro diria “estou a ensiná-los a dividir”, outro ainda diria “estou a fazer psicomotricidade”. Teria havido algum professor que definisse o seu trabalho em termos do projecto global em que estava incluída essa actividade concreta, essa pequena parcela que não é senão uma “porção” do conjunto?
Esta é a ideia de currículo que procurarei reflectir aqui. O currículo é o conjunto dos pressupostos de partida, das metas que se deseja alcançar e dos passos que se dão para as alcançar; é o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes etc. que são considerados importantes para serem trabalhados na escola, ano após ano.

Miguel Zabalza


Klein, M.F.(1985) “Curriculum Design”.
Reflexão
As decisões acerca da elaboração de um currículo devem ser feitas com resultado em deliberações de lógica e racionalidade. A meta principal para quem desenvolve um currículo é conseguir no final, que o mesmo atinja um elevado nível de consistência. Cada currículo pretende atingir diferentes metas e diferentes propósitos de aprendizagem. A formulação de um currículo está directamente ligada à estrutura e organização do mesmo.
Segundo este artigo a preparação de um currículo num primeiro nível, envolve uma de três escolhas básicas: Organização por conteúdos temáticos; Visando os estudantes como foco principal; Visando questões sociais como foco principal. Num segundo nível a preocupação situa-se relativamente às questões técnicas.
A organização por conteúdos temáticos, segundo o autor, geralmente é a mais comum, na formulação do currículo. Este tipo de currículo é programado na sua sequência de conteúdos com antecedência, para que os estudantes possam seguir as aprendizagens efectiva e eficazmente. Este pode ser um processo mecanizado, cujo objectivo se manifesta, na intenção de cumprir aquela aprendizagem sem que se desenvolva o entendimento da mesma. Alguns melhoramentos foram feitos ao longo dos tempos, para optimizar este currículo, separando os conteúdos multidisciplinares (coordenação de várias áreas de estudo) e interdisciplinares (um conceito pode ser trabalhado em várias disciplinas). Neste currículo, dois conceitos são importantes na organização da estrutura: as competências e a sequência. A sequência refere-se à organização vertical dos conteúdos, as competências referem-se à organização horizontal e são definidas de forma a integrar os conteúdos, dando-lhes sentido na sequência ao longo das aprendizagens. Os materiais servem os conteúdos de forma organizada e os testes geralmente, são os materiais de avaliação mais utilizados. A avaliação é planificada para efectivar, se o aluno atingiu os objectivos propostos Como desvantagens assinala-se, a fragmentação do conhecimento, o que faz com que o aluno se esqueça das etapas à medida que estas vão sendo leccionadas, afasta-se da aplicação prática, não foca as habilidades e pré-requisitos do aluno.
Quando o foco principal é os estudantes, de acordo com o autor, as necessidades, os interesses e as competências, são as bases estruturais deste currículo. Geralmente os estudantes são consultados e observados, de forma a direccionar os objectivos e conteúdos de aprendizagem, assim como os materiais e actividades. O currículo é uma estrutura flexível e personalizada. Os estudantes aprendem a dirigir a sua educação uma vez que têm um contributo forte na planificação das actividades, que geralmente se baseiam em actividades construtivas e interactivas. Os objectivos não são concebidos pelas áreas de estudo, mas sim pelas aprendizagens feitas pelos alunos relativamente às meterias de estudo. A avaliação é um compromisso entre o estudante e o professor. Como desvantagens podemos referir que por ser um currículo específico não visa as aprendizagens comuns. Exige uma formação específica que os professores poderão não ter.
Quando o foco principal é a sociedade, o autor define que se trata geralmente de um currículo que é utilizado em escolas que gerem comunidades e programas de inserção social. As questões derivam de problemáticas sociais, da vida social de determinada comunidade. Os procedimentos para a resolução de metas sociais, têm mais ênfase neste currículo que os próprios conteúdos. A avaliação é baseada em compromissos entre os estudantes e os professores. Como desvantagens podemos referir que: a sequência dos conteúdos não é claramente definida. As temáticas poderão ser abordadas superficialmente. Frequentemente, nem os professores, nem as escolas dispõem de recursos para ensinarem estes estudantes.
Numa escola podem haver vários tipos de currículos, desde que os mesmos se coadunem com as metas e objectivos a atingir.



Currículo Nacional do Ensino Básico
Competências Essenciais na Educação Artística
Análise da Integração das TIC no Ensino das Artes Visuais

De acordo com as linhas orientadoras, definidas para o ensino das Artes Visuais no ensino básico, este currículo actua na perspectiva do desenvolvimento das competências do aluno, face à sua integração como indivíduo na sociedade vigente. Considera-se que a base conceptual do programa, é de influência construtivista, em que é dada ao aluno a possibilidade de construir o seu próprio conhecimento através da sua acção sobre o meio que o envolve.
Começa por focar a Relação com as competências gerais, no sentido em que promove o desenvolvimento de novos saberes, facultando novos significados ao conhecimento, contribuindo para o reconhecimento da sua individualidade na sociedade e ao mesmo tempo possibilitando a comunicação e a aproximação entre várias culturas.
O programa refere também a importância de se criar como objectivo, uma Literacia em Artes, no domínio de apropriação das linguagens elementares das Artes e da compreensão das mesmas dentro do seu contexto.
No que respeita às Competências Específicas, o programa menciona três eixos estruturantes que inter-relacionados, conduzidos num percurso específico, constituem a Literacia Artística. Fruição – contemplação; Produção – Criação; Reflexão – Interpretação. No que diz respeito à Produção - Criação, o programa menciona a utilização das TIC e faz referência à possibilidade de utilização de diferentes meios expressivos de representação, com o uso de diferentes tecnologias da imagem, na realização plástica. O programa salienta que a experimentação de diferentes tecnologias, proporcionará ao aluno o domínio de materiais e instrumentos adequados ás suas necessidades.
Ao nível das Experiências de Aprendizagem, as indicações metodologias focam também o campo das Tecnologias da imagem, dando a possibilidade do aluno explorar meios expressivos ligados aos diferentes processos tecnológicos. Fotografia, Cinema, Computador entre outros e ser capaz de os utilizar de forma criativa e funcional. O desenho assistido por computador e tratamento da imagem na concretização gráfica. O aluno deverá proceder a análises formais e críticas e ao desenvolvimento de projectos.

Sob o ponto de vista da integração das TIC, penso que o programa incorpora várias directrizes que projectam no ensino das Artes Visuais a exploração de ferramentas tecnológicas, no sentido de promover uma aprendizagem diversificada e na aquisição e descoberta de novos conceitos visuais.